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136. Os Idiotas

13 de outubro de 2011


Título Original: Idioterne
Gênero: Comédia, Drama
Direção: Lars Von Trier
Roteiro: Lars Von Trier
Produção: Vibeke Windelov
País de Origem: Dinamarca
Estreia: 20 de maio de 1998
Duração: 117 minutos
Com: Jens Albinus, Bodil Jørgensen

Na verdade é uma grande ironia esse filme se chamar os idiotas, pois esse nome vai muito além dos personagens e da trama em si, e sim como um todo, pois dá para pensar que esse filme foi feito completamente por idiotas... mas não para idiotas.

O segundo filme do movimento Dogma 95 criado por Von Trier e Thomas Vinterberg, que preza um cinema menos comercial, mais simples, sem tecnologia em nenhum durante qualquer processo do filme, diferente do padrão hollywoodiano que tanto estamos acostumados. E aqui vemos um filme completamente simples e caseiro, quase documental com câmeras tremidas, microfones aparecendo a toda hora, sombras dos produtores e assim por diante, e assim o Dogma diz que pode-se fazer um bom filme sem o equipamento milionário que vemos na américa. E por isso não é um filme para qualquer pessoa, e sua historia e personagens também não são muito digeríveis.

Aqui vemos um grupo de pessoas que se fingem de doentes mentais para fazer um protesto ante a sociedade hipócrita que existe, uma sociedade que não se importa mais com o próximo que pensa somente em como vai ter mais poder e como ficar mais rico, mas que em momento nenhum se importa com a felicidade?
   
Mas isso é colocado em prova. Será que fingir ser um idiota é de fato uma ideologia para atacar a sociedade, ou apenas uma forma de fugir da realidade?
     Cada um do grupo está ali por algum motivo, mas principalmente porque quer ser feliz, liberar esse idiota que existe dentro de você, esse que não se importa com o que esta acontecendo ao redor e sente com mais força os sentimentos que o mundo lhe oferece.
     E isso também é um meio de enfrentar a sociedade, a mesma que diz que não vê problema nenhum em conhecer um deficiente até o momento que esse deficiente começa a babar em seu ombro. E assim começa a inventar desculpas para não viver com isso como uma "separação de bairros", ou aquele cumprimento de longe sem emoção, pois quanto mais longe melhor, porque assim não se tem contato.


Apelam assim para uma pergunta, quem é idiota? Você que é preso por inúmeras regras da sociedade ou eu que posso tudo?

A grande sacada do filme está em desmascarar os idiotas. A cada cena, fica mais e mais evidente que eles só estão nessa “jornada pelo idiota interior” para satisfazer seus próprios desejos e prazeres, para serem mimados e tratados como eternas crianças. No restaurante, há o lance de “passar a perna”; na visita à fábrica temos o desprezo sarcástico pela boa-vontade alheia; na piscina e na orgia há a “luxúria”, o “prazer carnal”… o próprio Stoffer, o chefe do grupo, admite o desejo de se aproveitar dos outros quando diz: “Na idade da pedra os idiotas eram mortos. Agora eles são protegidos. O futuro é dos idiotas.”

No entanto, toda essa ilusão de importância e até de superioridade infantil/idiota cai por terra, primeiro na cena dos tatuadores, a ponto de Jeppe, o mais sensível dentre eles, sair correndo – de VERGONHA – e depois, quando eles são desafiados a abrir mão das coisas que já conquistaram em suas vidas adultas. No momento em que suas famílias e carreiras são colocadas em xeque, eles murcham e se revelam Verdadeiros idiotas.

A exceção é a própria Karen, a “Golden Heart” da trama. Primeiro porque ela é capaz de perceber as fraquezas e deficiências de todos do grupo e se solidariza com eles genuinamente. E segundo, porque só ela consegue transformar em prática todo aquele discurso. Ela é a única que realmente “enlouqueceu”, percebendo a fraqueza e a mesquinhez de tudo o que tinha e abrindo mão disso para se conquistar, de verdade.
Mas a Karen só conseguiu chegar onde chegou, porque ela já não tinha mais nada.

O tipico personagem que perdeu tudo e não vê mais utilidade no viver, por isso que ela foge do velório do seu filho e vai para outros lugares que ela talvez nunca tenha conhecido, e quando vê os idiotas, ela sente algo que precisava sentir a muito tempo, felicidade; Felicidade que é conseguida de forma imoral, suja e errada mas mesmo assim ela fica lá para ver até onde vai dar.
     No final a Karen é a unica que percebe que ser idiota é o único remedio para ela e para o mundo, usando disso para se libertar de sua familia, e sua familia se libertar dela.


O elenco está ótimo a toda hora, em nenhum momento você vê algum ator faltar muito menos menos capazes, e isso alavanca ainda mais a força que o filme tem. Von Trier como diretor de elenco também está fenomenal que consegue extrair o máximo de seus atores, a ponto de ter cenas de sexo explicito (sim, onde você vê a penetração) e que chega perto do pornográfico, mas se ajusta onde quer chegar.

Mas Von Trier querendo fazer um filme com os mandamentos do Dogma endireitou demais. Não estou falando da quebra da segunda regra, que diz que o som do filme inteiro deve ser direto e que ele ao quebrar colocou uma pequena trilha sonora em cima, mas digo da forma que ele fez o filme todo. O Dogma diz para não se importar com o visual e sentir somente o filme, e Von Trier exagera nisso, ao tentar parecer despreocupado com os fatores estéticos e técnicos se preocupa muito, como cortes desnecessários e o microfone invasor de hora em hora.

Por isso que digo que o nome se encaixa perfeitamente com o filme como um todo. Idiotas são os personagens que se fingem de idiotas para atacar a sociedade. Idiotas é a sociedade burguesa hipócrita que já não sabe mais o que é felicidade. Idiotas são os montadores, produtores, organizadores do filme, ou seja a toda a equipe, que com base nas diretrizes do Dogma faz um filme com tantos erros técnicos. Mas de forma alguém é idiota quem assiste esse filme, pois ele não ia conseguir.


É um filme difícil de assistir, eu por exemplo, tive que ver o filme duas vezes para conseguir digerir tudo e entender a essência do filme. Mas no minimo temos que respeitar esse obra histórica para o cinema mundial como o dia que o cinema não sera mais uma coisa de elites.

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